sábado, 6 de março de 2010

Queria que algum canto do mundo me acolhesse. E me entendesse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a calma, a razão e o equilibrio. Eu queria ir para algum canto do mundo em que ninguém nunca me dissesse "hey, você se expõe demais" e que me deixasse ser assim e me abraçasse quando eu ficasse quietinha quando o mundo resolvesse me magoar, porque eu sou briguenta, mas sou mais frágil que uma formiga com as patinhas machucadas. Eu queria ir para algum lugar onde não existisse tempo de beijar e tempo de pirar. E eu pudesse ir agora para o seu mundo te alcançar e te beijar até enjoar de você. E eu pudesse, de repente, gritar bem alto, porque o meu silêncio nesse mundo já em si o grito mais alto que alguém já deu. E queria destruir os sons que saem do seu celular, esses sons que me dizem que meio mundo te procura enquanto eu não posso te procurar porque a cartilha da vovó que casou dizia que a gente nunca pode se entregar demais se não quiser sair machucada. Eu queria mandar para aquele lugar a cartilha da vovó. E queria tirar essa voz da minha mãe da minha cabeça, dizendo "minha filha, ninguém gosta dessas coisas". Eu sei que sou exatamente o que 98% das mulheres não gosta ou não sabe gostar (apesar de elas nunca me deixarem em paz). Eu falo o que penso, abro as portas da minha casa, da minha vida, da minha alma, dos meus medos. Basta eu ver um sinal de luz recíproca no final do túnel que mando minhas zilhões de luzes e cego todo o mundo. Sou demais. Ninguém entende nada. E eles adoram uma sonsa. Adoram. Mas dane-se. Um dia um louco, direto do planeta dos 2% de mulheres, vai aparecer. E que se dane a natureza gritando no meu ouvido que não posso ser assim. Que a boa fêmea sabe esperar nove meses, portanto deve saber esperar uma ligação ou um sinal de "pode avançar no joguinho". Eu não sei esperar nada. E a natureza gritando no meu ouvido que então, já que sou birrenta, vou ficar sem nada mesmo. Porque é preciso saber viver. Atiram a gente nesse mundo, nosso coração sente um monte de coisa desordenada, nosso cérebro pensa um monte de absurdo. E a gente ainda precisa ser superequilibrada para ganhar alguma coisa da vida. Como se só por estar aqui, aturando tanta maluquice, a gente já não devesse ganhar aí um desconto para também ser louco de vez em quando. Quem é essa natureza maluca, quem é esse mundo maluco? Quem são esses doidos que exigem tanta certeza e tanta "finesse" e tanta postura da gente? E eu queria te beijar até enjoar. Porque eu só sei curar uma vontade de me entorpecer de alguém quando sugo a pessoa até a última gota. O problema é que, nesse mundo sem graça com celulares que apitam e mensagens no Messenger que apitam e policiais mentais que apitam "hey, segura a onda, não deixe ela perceber que pode comandar seu coração mole", ninguém mais sabe nem sugar e nem ser sugado até a última gota. Fica uma droga de um joguinho superficial de trocas superficiais. E ai de quem resolva sair disso. Vai ser tachado de louco de pedra. Maluco. E as meninas sonsas se dando bem, e eu dormindo abraçada com o travesseiro sem dona da cama de solteiro, na casa da mamãe. Queria que ao menos algum canto do mundo me acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão, a calma ou o equilíbrio. E repetir e repetir e repetir o erro. E jurar que da próxima vez eu serei normal. E jurar que da próxima vez eu obedecerei a natureza, minha mãe, a cartilha da vovó ou as meninas sonsas. E virar a rainha das 98% de mulheres que não sabem o que fazer com uma pessoa que nem eu. E depois chutar todos eles, porque no fundo tô pouco me lixando pra essa maioria idiota. Pode até ser meio solitário correr contra a maré, mas como é gostoso olhar a multidão do outro lado e enxergar todo mundo pequenininho.

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